Leões e Cordeiros – Por que tanto tempo?

“Você é adulto agora. E o problema da idade adulta é que ela começa antes de percebermos, quando já tomamos dezenas de decisões. Mas o que você precisa saber, […], é que não há mais salva-vidas lhe observando.”

Quando acabei de assistir esse filme eu só me perguntava:

Por que demorei tanto para vê-lo?

 

Um roteiro muito bem construído que caminha para a contemplação do porquê não agirmos, nos mantermos seguros achando que essa é a melhor coisa a fazer. De fazermos isso achando que vamos contra algo, mas estamos indo a favor do que tanto detestamos.

Não me recordo de ter assistido a alguns dos filmes que Robert Redford dirigiu, mas esse realmente conseguiu tocar no âmago da idéia que, eu acredito, ele queria passar para quem assistisse a sua produção.

 

São três histórias intercaladas que acontecem simultaneamente sobre praticamente um mesmo tema. Uma nova investida americana contra o Afeganistão. Existe o diálogo entre o político do partido republicano interpretado com vivacidade por Tom Cruise e a jornalista interpretada por Meryl Streep – sempre muito dosada -.

Um professor – Robert  Redford – e seu aluno – Andrew Garfield – que conversam sobre a atitude do personagem de Andrew em relação as aulas de Ciência Política. E fechando o triângulo de ações, a mal sucedido inicio da ação do exército americano no Afeganistão que mostra como principais expoentes os soldados vividos por Derek Luke e Michael Peña.

 

É importante destacar que todos os atores do filme se destacam pela credibilidade de suas atuações, principalmente os novos. É impressionante como eles realmente conseguiram passar, ao menos pra mim, algo real e que tocou o meu consciente em relação ao tema abordado.

 

O filme tem uma montagem muito boa, com uma trilha sonora minimalista e muito bem encaixada em cada situação. E além de ser uma bela produção tem um roteiro emocionante, bem construído e com falas que ganham cada vez mais sentido até culminarem com o auto-exame do que eu tenho feito pelos meus ideais. Fazia tempo que um filme não me fazia chorar. E nem foi por fatos de vida ou morte, mas sim por me fazer pensar justamente nas atitudes que estão intrínsecas ao nosso cotidiano. As pessoas sempre reclamam de mudanças, mas querem a mudança de fora para dentro e não o contrário.

 

No final do filme, quando todas as ações se encerram, todos os diálogos fazem sentido e o próximo passo que o personagem de Garfield  irá tomar fica tão claro que parece que será possível tocá-lo.

 

O mais louco de tudo isso é que o roteirista conseguiu expor todas as suas opiniões a respeito do que vem acontecendo com os Estados Unidos de uma maneira única. Pois ao mostrar os meandros de várias decisões tomadas para um mesmo fim escancara o que move cada um para um objetivo mais ou menos glorioso. É estranho divagar com tanta fluidez à respeito do filme deixando de lado os pareceres técnicos, mas, com certeza, esse é um filme que alcançou o objetivo de todos os filmes; fazer o espectador refletir. Não só enquanto assisti, mas depois.

 

Um filme para ser assistido mais de uma vez para que seja possível entender, ou chegar perto, de todas as idéias que foram expostas durante o filme. Redford mostra que está sintonizado com o mundo e com o que acontece com seu país ao escolher um roteiro tão bem entrelaçado e com uma abordagem crua e ao mesmo tempo instigante desse tema que deve fazer várias cabeças americanas fervilhar. Para bem ou para o mal. Por que eu demorei tanto para assistir esse filme?